CIFF – Monica & A Piece of Sky

O que faz “Monica”, novo filme de Andrea Pallaoro, funcionar extremamente bem através da sua construção, é o fato da diretora subestimar as emoções mais verdadeiras dos personagens que protagonizam o seu longa. Todo vestígio de arrependimento, devastação, aceitação e liberdade é apresentado de maneira sutil e direta, sem se amparar em qualquer tipo de melodrama que parece perseguir a maior parte dos filmes que tratam sobre o processo de aceitação no meio LGBTQIA +. Construindo um minucioso e sensível estudo de personagem, Pallaoro dá tempo de sobra para fazer com que haja uma conexão entre o filme e o espectador, o que torna todas as questões abordadas em algo muito mais real e gracioso. 

Tracy Lysette, que interpreta a personagem que dá o título ao filme, não só carrega o filme, ela o eleva. Lysette mostra como construir uma personagem cheia de nuances, sem nunca precisar de grandes cenas para conseguir atingir o objetivo final, que é nos colocar em uma posição onde entendamos todas as suas escolhas ao longo da história. Embora Monica pareça aberta para encarar o passado, Lysette sempre lida com as questões que cercam a personagem de maneira apreensiva, como se estivesse novamente exposta a tudo que enfrentou no passado. Não é só uma atuação sutil, é um verdadeiro exercício de complexidade por parte de Lysette, que consegue trazer emoções e sentimentos conflituosos para uma personagem que por grande parte do filme é tratada como um ponto de interrogação pela diretora. 

A delicadeza e sensibilidade que Pallaoro exibe através da sua visão como diretora é o que faz com que a história de  “Monica” seja uma abordagem diferente da estrutura convencional que faz parte dos filmes que tratam dessa mesma temática.

Embora lide com temas como saúde mental e desconstrução da masculinidade de uma maneira realista e crua, o filme de Michael Koch não consegue escapar de suas raízes frígidas e milimetricamente calculadas. A história que é construída em uma vila de um monte Sueco, consegue dizer tudo que deseja através dos seus cento-e-trinta-e-seis minutos, mas sua mensagem é enfraquecida por conta da estrutura fria e distante que Koch usa para desenvolver o longa. Koch tem muito a dizer durante todo esse período, mas a sua execução é, no mínimo, contestável. Todas as questões que o diretor aborda acabam por se escassear ao longo do tempo, que prolonga o sentimento de temor de uma maneira cansativa. O filme ainda tenta abraçar uma aproximação ao espiritual, que, apesar de instigante, não consegue trazer um novo tipo de olhar para a história que está sendo contada.

O que realmente se destaca no filme, além da sensível Michèle Brand, que faz milagres com um papel raso, são os aspectos técnicos, principalmente a fotografia de Armin Dierolf, que embora seja a grande responsável por manter o espectador distante dos personagens, também é responsável por trazer uma delicadeza ímpar na hora de tratar dos momentos de impotência dos personagens. O sentimento esmagador que Dierolf e Koch trazem para a história através do visual, é o que acaba definindo a mensagem final do filme, que apesar de desoladora e fria, nos dá o espaço para entender e sentir o que deve ser sentido.