Veneza 2022 – Padre Pio

Avaliação: 1 de 5.

“Padre Pio”, novo filme de Abel Ferrara, percorre pelas carências sociais e espirituais de um cenário pós-guerra em uma biografia maneirista – no que se atrapalha em sua adaptação e acaba sendo um filme regular, sem qualquer tipo de finalidade ou mensagem profunda por trás.

Pio (Shia LaBeouf) retorna à uma pequena cidade totalmente hostilizada após a Primeira Guerra Mundial. O personagem de LaBeouf também demonstra ser um carente e deteriorado padre, em busca pela validação do divino, que vê sua espiritualidade ser corrompida diante do ambiente ditatorial no qual foi convocado, levantando questionamentos sobre sua fé. O ator entrega uma performance mediana, que é principalmente resultado de todo o nó cronológico do filme, tornando sua atuação em algo confuso, banal e sem nuances.

Mas o que é pertinente é o desejo do padre de esgueirar-se para o “paraíso” devido tamanha violência e injustiça causados pelos tiranos locais que afetam principalmente as classes sociais mais baixas. O seu papel dentro desse cenário é de quase um espectador, estando ali para cumprir seu papel social de doutrinar, sem poder tomar nenhuma outra ação para ajudar aqueles que precisam. A visão de Ferrara é quase sádica nesse ponto, pois nos coloca em uma posição delicada onde a vontade de fazer algo é completamente restringida pelo medo.

Com um entorno social caótico que deixa evidentes questões do socialismo, nos maçantes embates das classes sociais ao decorrer do filme, a adaptação dessa biografia falha em seu maneirismo no desenvolver desse cenário político. Ferrara é um inapto em cristalizar qualquer um desses temas decentemente, tornando tudo uma bagunça. O filme testa a paciência de seu espectador com os seus planos aleatórios sempre acompanhados de uma trilha sonora pra lá de insuportável – frívola até neste aspecto. O arco do morticínio nos últimos minutos de filme é exageradamente pretensioso, mas é na cena que vem como uma resposta ao pico brutal que lá ocorre, que o filme consegue acertar, e se encerra com um conforto à fé em meio ao caos já materializado. É um tanto batido, embora seja inesperadamente reconfortante.


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