Explorando de forma inconsistente um assunto bastante forte na Rússia que é a repressão à liberdade de expressão, ‘The Case’ é um documentário que peca pelo excesso em mostrar as burocracias envolvidas em casos de prisão política, mas agrada em seus momentos mais viscerais onde o caos generalizado por manifestações se faz presente em tela.
Embalado pela direção frenética de Nina Guseva, existe um cuidado pela construção de narrativa da forma mais visual possível, enquadramentos bastante detalhados são utilizados mas o senso de equilíbrio entre quietude e momentos mais agressivos faz bastante falta; o documentário começa de uma forma inteligente mostrando ao espectador uma sucessão de protestantes sendo presos em Moscou em um ato pacífico, contra o governo ditatorial de Vladimir Putin; e é nesse momento inicial onde se há um valor de choque, onde a imersão trabalha de forma inteligente em relação ao assunto a ser tratado pela diretora, até que em meados de dez minutos após as cenas iniciais, temos uma grande queda de narrativa onde há um hiperfoco na advogada, que é o centro desse trabalho documental. Ela advoga pelos presos políticos e busca a libertação de pessoas injustamente presas, porém há uma grande desconexão do objetivo do documentário, pois traz a monotonia para o centro do projeto; lidando bastante com a parte burocrática dos processos de prisão, Maria Eismont a advogada do caso de Konstantin Kotov (o caso que é o foco principal do filme), é supervalorizada pela diretora à ponto da história da vítima ser quase que completamente ignorada e colocada como pano de fundo de uma justiceira popular aos oprimidos, e esse é o principal erro do projeto.
Induzindo o espectador há um olhar menos amplo, esses pequenos focos exagerados trazem um vazio para um assunto que poderia ser explorado de forma crítica, o espaço para meditação no assunto da opressão russa é bastante vago; os momentos onde são mostradas entrevistas que a advogada concede a televisão russa trazem um acerto respiro, porque trás de volta o debate político ao centro, porém logo após Nina se perde mais uma vez em detalhes desnecessários sobre o que envolve toda a luta judicial no backstage.
Chegando aos últimos minutos de documentário, há uma sensação de leve esperança e que traz novamente uma harmonia do caos que havia nos primeiros momentos. Apesar de não possuir grandes impactos ao longo de sua jornada, acredito que o final deixou um ponto importante há ser discutido e interpretado de diversas maneiras.