Na década de 50, Alice (Florence Pugh) e Jack (Harry Styles) vivem na idealizada comunidade Vitória. A cidade experimental é o lar dos homens que trabalham no ultra-secreto Projeto Vitória e de suas esposas que vivem reclusas no local. Essa utopia começa a desmoronar quando Alice presencia acontecimentos estranhos que fazem ela questionar as motivações por trás desse projeto.
Após sua estreia com o ótimo “Fora de Série” (2019), Olivia Wilde retorna à direção com “Não Se Preocupe, Querida”, um projeto bem mais ambicioso que o longa anterior. As precisas escolhas visuais de Wilde contribuem para a criação de um mundo que é perfeito em sua superfície. Aliás, o apelo visual é um dos aspectos mais fortes do longa, desde o design de produção e figurinos que recriam uma versão impecável dos anos 50 até a fotografia de Matthew Libatique que emoldura o todo.
Neste lugar deslumbrante acompanhamos a rotina de Alice e Jack: as diversas festas, as refeições em casal, a partida de Jack e dos outros sócios para seus misteriosos trabalhos e a interação de Alice com as outras esposas. Em uma dessas festas Margaret (KiKi Layne), amiga de Alice aparenta estar desnorteada e questiona o motivo de todos estarem ali. O líder Frank (Chris Pine) faz um discurso vago mas convincente para os presentes. Em seguida Alice também começa a se questionar após experimentar episódios bizarros.
Desde o começo a construção do suspense deixa óbvio que algum tipo de revelação está por vir. A temática feminista também contribui para o mistério, as mulheres apenas cuidam das tarefas domésticas e não tem qualquer conhecimento do trabalho dos maridos ou do objetivo do projeto. Mas apesar da atmosfera de culto do lugar, não parece haver qualquer tipo de puritanismo religioso envolvido. Também não se tem nenhum tipo de tabu sexual, pelo contrário, essas atividades parecem ser encorajadas.
De início os acontecimentos são intrigantes e vão deixando pistas para a audiência, mas com o tempo o roteiro de Katie Silberman se torna repetitivo, com momentos não tão significativos que não conseguem se manter por si só. Mas graças à ótima Florence Pugh até mesmo estes momentos mais falhos do roteiro ainda são capazes de entreter. Pugh consegue prender totalmente a atenção e carrega o público na jornada de Alice desde a esposa feliz até a questionadora que sofre gaslighting. Harry Styles por outro lado está funcional por boa parte do longa, mas nos momentos de grandes emoções não consegue aplicar nuances. Chris Pine está bem como o líder do Projeto Vitória, mas entre o elenco de apoio quem se destaca é a própria Olivia Wilde interpretando Bunny, vizinha e amiga de Alice.
Quando chegamos ao momento da revelação, ela se apresenta como algo derivado do que já vimos antes em outras obras. Mas funciona e impulsiona o terceiro ato para um desfecho excitante e satisfatório. Mesmo com um roteiro falho, “Não Se Preocupe, Querida” é um suspense divertido, com ótimos visuais e que funciona em grande parte pela magnética Florence Pugh.