Propondo simplicidade ao contar a história de uma mulher reprimida pela religião e o sexismo, ‘Carmen’ é um longa que diverte ao não se levar tão a sério. Contado de forma lenta ao começo, a atriz Natascha McElhone carrega a película com seus olhares misteriosos e sua linguagem corporal ativa; uma mulher mais velha que vive com seu irmão que é padre, foi forçada desde sua juventude a viver à serviço da igreja, e é nessa premissa que o roteiro se constrói, até o ponto de virada quando seu irmão falece, e ela ai de encarar sua liberdade, agora, sem ter para aonde ir.

A direção de Valerie Buhagiar faz o trabalho impetuoso de navegar a personagem principal a sua libertação, a fotografia é usada de forma inteligente mudando seus tons de escuros há mais claros, conforme o andamento da história se alinha, e é nesse embalo onde o ritmo do filme vai se explodindo cada vez mais, com leves momentos cômicos, cortes de cena pontuais e uma linguagem visual de fácil interpretação; somando a tudo isso há um compasso harmonioso entre os atos do filme, quase como se fosse um vento levando os olhares para a aproximação à personagem.

A premissa evoca das mais leves sensações até as mais profundas memórias de tristeza, há uma linha tênue entre o que é claro para a personagem principal e o que é injusto, há um senso de justiça para si, ela busca sempre estar bem consigo mesma nesse processo de libertação, e pare além disso ela busca ajudar as pessoas em sua volta, o que torna tudo um pouco mais interessante.
Há uma dinâmica muito inteligente de disrupção de ideias em relação a religiosidade e autoridade religiosa, até metade do filme onde a curva se leva a um conto romântico que propõem mostrar um lado dócil e vulnerável da personagem, que ao mesmo tempo que é bonito não se torna tão eficaz para o ponto original da trama. Há com clareza um emaranhado de ideias que se fazem combinar de forma inorgânica, citando vários pontos de caráter em relação a mensagem a ser passada, alguns com eficácia outros com leviandade; De toda forma a leveza geral do longa que também é refletida em sua duração, torna a experiência cinemática bastante agradável.