“Burning Hearts”, novo filme de Pippo Mezzapesa, é um brutal e sufocante conto de amor proibido. O filme acompanha as famílias Malatesta e Camporeale, que possuem uma rixa de décadas. A primeira cena do filme já mostra que a história das duas famílias são manchadas de sangue. Nos primeiros momentos, vemos a família Camporeale dizimando toda a família Malatesta, com o único sobrevivente sendo o membro mais novo. A partir daí, toda uma trajetória de vingança é traçada pelo sobrevivente ao ataque. Com o passar dos anos, a família Malatesta volta a existir, e o filme acompanha especificamente o crescimento de Andrea Malatesta (Francesco Patanè). Andrea se apaixona por Marilena Camporeale (Elodie Di Patrizi), membro da família Camporeale. O amor é fadado ao desastre desde sua concepção, visto que além de fazer parte da família rival, Marilena ainda está grávida.
Mezzapesa brinca com os conceitos de vida e morte, banalizando todas as ações que envolvam esses dois tópicos. Seja o sexo ou a violência, tudo é gratuitamente agressivo. O filme é tão sombrio e visceral que acaba sufocando o espectador, que presencia as maiores brutalidades possíveis sem nenhum momento para respirar. É algo que acompanha o filme em toda a trajetória, e embora seja válido e entendível, não diminui o fato de que às vezes o excesso de violência atrapalha o desenvolvimento da história. As cenas começam a se tornar cada vez mais óbvias e repetitivas, conforme todos os confrontos terminaram da mesma foto: com um ato frio e banal. Mezzapesa é extremamente sádico ao fazer com que enfrentemos duas horas de pura fúria. Todo o encanto do diretor referente aos atos de violência acabam possuindo um tom erótico, como se ele sentisse prazer em tanta impetuosidade.
Embora a direção seja competente e muitas vezes inspirada, o roteiro do filme acaba se tornando a grande deficiência do longa. Embora tenha aspectos Shakespearianos trágicos, o filme não consegue escapar da sua natureza novelística. Tudo é elevado à décima potência – inclusive as atuações dos atores que beiram a caricatura. Não existem nuances ao abordar temas como família e traição, tudo é extremamente exagerado, como se o roteiro estivesse todo escrito em um eterno caps-lock. A ascensão e queda de Andrea, embora previsível, é de certa forma envolvente. É realmente como assistir uma tragédia grega se desenrolar diante dos nossos olhos e, com a ajuda da fotografia de Michele D’Attanasio, todas as partes sujas e viscerais da visão de Mezzapesa tomam forma apropriada.
Talvez as maiores ideias de Mezzapesa não tenham funcionado, mas não podemos julgá-lo por tentar. Acredito que dentro do artificial roteiro de ‘Burning Hearts’ existe uma história interessante, o que acaba tornando a decepção pelo resultado final em algo muito mais amargo.