Juntar todas as peças necessárias para criar um filme cheio de nuances sobre patriarcado, religião e abuso sexual é uma tarefa difícil, mas Sarah Polley prova que sabe dirigir performances para atingir uma narrativa primorosa. Mesmo exibindo enquadramentos de cena e cinematografia pouco imaginativos e, por vezes, óbvios, as analogias ainda conseguem ser traduzidas na parte audiovisual. Essas são talvez as únicas escolhas seguras de um longa muito potente e arriscado.
O filme acompanha um grupo de mulheres que vivem em uma espécie de colônia religiosa. É através do dialogo em que elas encontram uma maneira de se verem livres de toda a alienação que lhes é imposta.
Foy está ótima, entregando exatamente o que é necessário para transmitir o caráter da personagem. Rooney Mara também entrega o necessário em uma atuação mais silenciosa e contida do que as outras atrizes. Contudo, Jessie Buckley se desmancha em sua atuação multi-camadas, sem jamais beirar ao exagero. Ela é o grande pilar emocional do filme e cumpre o seu papel entregando uma performance devastadora. As três performances, dignas de uma peça teatral multipremiada, ancoram o filme à vida real e ao ambiente religioso metafórico. Mas não se engane: a teatralidade é resultado da excelente entrega dos diálogos longos de Sarah Polley, que servem como uma maneira de dar voz a esse grupo de mulheres que foram silenciadas por toda uma vida.