San Sebastian – The Great Silence

Avaliação: 3.5 de 5.

O pilar da fé Cristã é a ideia de que existe uma força maior que tem o poder de perdoar as suas criações pecaminosas, mas o filme de estreia de Katrine Brocks nos mostra que, na realidade, o perdão é algo mais fácil de se falar do que de se fazer. ‘The Great Silence’ acompanha Alma (Kristine Kujath Thorp), uma jovem que está prestes a fazer seus votos como freira em um convento católico. Seu pai faleceu há pouco tempo e deixou uma herança em seu nome. Alma doa todo esse direito para ajudar nas obras do convento, mas a situação toda muda quando o seu irmão Erik (Elliott Crosset Hove) aparece no lugar. A sua chegada expõe uma tragédia do passado e força Alma a finalmente encarar o que aconteceu. 

O conflito entre uma pessoa que tenta a todo custo mudar o rumo de sua vida, mas que parece presa pela inércia e o de alguém que não consegue fugir do passado é brilhantemente construído por Brocks, que vai desmistificando os significados de perdão e religiosidade durante o desenvolver da narrativa. Enquanto Erik é visto como a ovelha negra da filha, Alma é tida como filha prodígio, mas Brocks faz questão de mostrar que eles são indubitavelmente iguais. Brocks também desmistifica a santidade da igreja, mostrando que assim como todos os outros mortais, as pessoas que fazem parte dela também são passíveis a erros. E é isso que ‘The Great Silence’ realmente é. Uma mensagem de que, na busca pelo perdão dos outros, nós devemos nos perdoar primeiro.

Thorp, que esteve excelente como uma mulher lidando com uma gravidez indesejada em Ninjaby, continua a provar que lida bem com papéis complicados. Ela transmite a inconsistência nas atitudes de Alma sempre com o benefício da dúvida, se distanciando de interpretações de bem e mal absolutas. Thorp abraça a dualidade da personagem e nos mostra como ela genuinamente deseja mudar. 

Mas além das boas performances, a visão de Brocks é o que faz ‘The Great Silence’ realmente funcionar. Sem ser totalmente aversa ao cristianismo, ela mostra quão hipócrita e gananciosa a igreja pode ser, brincando com a ambiguidade da devoção de seus fiéis, mostrando como o medo e o arrependimento podem afetar diretamente a sua fé. O seu trabalho sintoniza com a fotografia fria de Mia Mai Dengsø Graabæk e a edição contida de Nikoline Løgstrup, criando um belo estudo de personagem. No fim, mesmo que você não esteja aberto ao perdão, Brocks pede que pelo menos considere a compreensão.