TIFF – Winter Boy

Avaliação: 1.5 de 5.

O luto é um dos temas mais explorados nos cinemas nos dias de hoje. Só no ano passado tivemos diversos retratos sobre o tema, como Drive My Car, Mass, Pig e Hold Me Tight. Talvez isso aconteça pela sua natureza subjetiva, visto que cada indivíduo lida com a perda e com o processo de luto da sua própria maneira. O novo filme de Christophe Honoré, Winter Boy, não trás nenhuma singularidade nova quando o assunto é estrutura narrativa.

O filme acompanha Lucas (Paul Kircher), um jovem de 17 anos que vê sua vida cair aos pedaços após a perda repentina de seu pai. Após o acidente, ele precisa viver sozinho com sua mãe Isabelle (Juliette Binoche), enquanto tenta reencontrar o rumo de sua vida novamente. A maneira com que Lucas lida com a perda do seu pai às vezes parece incompreensível – mas a perda também é. Lucas não consegue lidar com o fato de ter perdido seu pai de uma maneira tão evitável.

O filme é um palco enorme para que seus atores possam demonstrar os sentimentos da forma mais crua possível. Todos eles ganham uma chance de darem o máximo de si na tela. Kircher interpreta Lucas de uma maneira inconsequente. Ele entrega uma performance tão devastadora quanto compreensiva. Mesmo com sua personalidade difícil de lidar, Kircher consegue fazer com que o espectador crie simpatia com o personagem por causa de sua perda. Binoche interpreta Isabelle com uma sensibilidade ímpar. O que poderia ser um papel linear e previsível, se torna uma aula de humanidade e compaixão. O irmão de Lucas, Quentin (Vincent Lacoste), também ganha seus momentos de brilhar.

A questão é que, mesmo com um show da parte dos atores, a abordagem fria de Honoré faz com que seja difícil se conectar totalmente com a história. Às vezes a sua direção introspectiva castra algumas cenas que poderiam ser muito mais comoventes do que necessariamente foram. É esperado que filmes que abordam o luto usem de manipulação emocional para comover o público, mas esse é um dos menores problemas no filme de Honoré. Aqui o diretor arrasta uma história rasa por quase duas horas de projeção. É uma narrativa lenta e pouco inventiva, o que acaba por tornar toda a experiência em um fatigante e desnivelado estudo de personagem, mas que por fim parece não ter muito a dizer.

É difícil acreditar que esse é um trabalho do mesmo diretor de “On a Magical Night”. Enquanto esse trabalho mostra toda maestria do diretor em tornar uma história aparentemente simples em algo completamente empolgante, “Winter Boy” faz parecer que o diretor perdeu a vontade de viver. É uma direção tão desestimulante e vazia, que nos faz questionar até onde Honoré queria ou não realizar esse filme. Apesar de dirigir bem seus atores, a escolha de ter Binoche no papel de viúva desamparada parece ter sido mais um gesto egóico do diretor de conseguir uma grande atriz para seu filme, do que um gesto genuíno de interesse em trabalhar com ela.

Enquanto o sentimento de inércia puxa todos os personagens para o abismo emocional, a distância entre a história e o espectador começa a ficar cada vez mais latente. Depois de uma hora de filme, tive que questionar a real intenção por trás do trabalho do diretor. Por que essa história está sendo contada? Por que ele a escolheu? Existe alguma conexão entre a história e a vida pessoal do diretor? O filme não responde a nenhuma dessas perguntas, pelo contrário, parece evitá-las de propósito.

O maior crime de “Winter Boy” não é a sua profundidade inexistente ou ritmo torturante, mas sim o desprovimento de qualquer visão artística. É possível perdoar a narrativa genérica do desenvolvimento do longa, mas não a má vontade e indiferença do diretor com a própria história.