Great Freedom

Avaliação: 3.5 de 5.

Delicado e sereno, Great Freedom encontra um meio termo atraente e doloroso entre a esperança e o conformismo.

O longa acompanha Hans Hoffmann (Franz Rogowski), um homem gay que foi preso com o pretexto do ‘Parágrafo 175’, lei que criminalizava relações homossexuais durante o período da Segunda Guerra Mundial na Alemanha. Na cadeia, Hans encontra um confidente em Viktor (Georg Friedrich), que a princípio rejeita a sua presença, mas que se aproxima ao decorrer da trama. A história que acontece durante vários períodos de tempo mostra como Hans retoma antigos romances dentro da prisão, como com Oskar (Thomas Prenn) e Leo (Anton von Lucke).

A direção cuidadosa de Sebastian Meise consegue subverter a ideia do que seria uma prisão, transformando o aprisionamento em um ambiente libertador para o Hans. A prisão, por mais agressiva e incomum que fosse, era o lugar onde ele encontrava uma forma de amar. Meise, junto da edição, constrói um paralelo sublime entre as linhas do tempo do protagonista, mostrando como a sua forma de se relacionar não mudou com o passar do tempo. Meise é delicado e empático como diretor, fazendo com que a história nunca fique muito pesada ou desesperançosa – por pior que sejam as circunstâncias. O diretor faz com que os momentos em que o personagem conquista as tão esperadas “liberdades” aparentem mostrar que o real aprisionamento de Hans é a sua realidade vazia fora daquele lugar.

Apesar da história se passar em uma prisão, a fotografia nunca trata a realidade de Hans como algo claustrofóbico. Mesmo dando um tom frio a narrativa, a palheta fria que acompanha o figurino e o design de produção do filme não transborda melancolia em momento algum, e a fotografia trabalha em sintonia com esse jogo entre a liberdade e aprisionamento que cerca o protagonista. Pode-se notar como a sequência final de Hans em um bar gay é muito mais fechada do que as cenas dele na prisão, reafirmando que ele se sentia muito mais livre durante o encarceramento.

As atuações de Franz Rogowski e Georg Friedrich são um dos pontos altos do filme. Talvez o filme não funcionasse tão bem nas suas complexidades se os atores principais não fossem capazes de desempenhar a variedade de sentimentos que os seus personagens requeriam. Rogowski é vulnerável, delicado e resiliente. Sua realidade sofrida e dolorosa não parece abalar sua esperança de encontrar o amor, e Rogowski convence ao aceitar completamente a fragilidade e incerteza do personagem, mas o grande destaque do filme é Friedrich. Apesar do foco em Hans, Viktor também é um grande personagem para o filme, e apesar da sua aparência forte e jeito dominante, ele é tão vulnerável quanto Hans. Viktor, que é atormentado por seu passado, também parece encontrar conforto no aprisionamento, e Friedrich parece sempre estar um passo a frente da história, fazendo com que as nuances de seu trabalho ecoem diante o espectador.

A questão da abrangência no significado da palavra “liberdade” é um dos principais questionamentos do longa, e o que poderia ser um filme focado em atuações acaba se tornando algo maior e muito mais rico graças ao roteiro assinado por Meise e Thomas Reider. Junto eles foram capazes de desenvolver um roteiro humano que transita de maneira orgânica entre as ações e atitudes de Hans e Viktor, criando um vínculo afetivo entre eles e o espectador.

No seu completo entendimento das emoções que movem os seus personagens, talvez o principal tema de Great Freedom seja sobre pertencer. Tanto Hans quanto Viktor encontraram na prisão uma maneira de viver, fazendo com que aquela realidade fosse a única coisa que eles conheciam de verdade, e como se espera que alguém mude quando aquilo é tudo que eles sabem fazer?