Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), com a ajuda de aliados místicos antigos e novos, atravessa as realidades alternativas alucinantes e perigosas do Multiverso para enfrentar um misterioso novo adversário.
Sam Raimi foi um dos grandes responsáveis por revitalizar o gênero dos filmes de super-heróis no início dos anos 2000 com sua agora icônica trilogia Homem-Aranha, mesmo com o último filme não sendo tão bem recebido. Quinze anos depois ele retorna com Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, que além de ser um filme de super-herói possui elementos de terror, gênero no qual o diretor teve seu primeiro grande sucesso com The Evil Dead (1981). O projeto então encaixou como uma luva, a identidade de Raimi está em cada minuto do longa. Sua direção criativa incorpora elementos camp e terror gore produzindo o filme mais visualmente insano do Universo Cinematográfico Marvel.
No entanto o roteiro de Michael Waldron deixa a desejar. Tendo que amarrar ideias e dar continuação a diversos projetos anteriores do MCU, enquanto cria sua própria narrativa, o roteiro prioriza alguns aspectos enquanto outros são apresentados de forma superficial. Elizabeth Olsen continua ótima no papel de Wanda/Feiticeira Escarlate, ela entende o teor camp empregado aqui por Raimi e entrega uma performance em perfeita sintonia. Mas a caracterização de sua personagem sofre com a mudança abrupta empregada pelo roteiro. A Wanda que vemos por último na ótima WandaVision (2021). retorna completamente diferente, como se tivéssemos perdido um capítulo dessa história. O roteiro oferece explicações para suas motivações, mas são tão superficiais quanto a resolução que a personagem encontra no fim do longa. Karl Mordo (Chiwetel Ejiofor), é apresentado no fim de Doutor Estranho (2016) como o próximo vilão a ser enfrentado, mas aqui é jogado à escanteio.
Cumberbatch interpreta muito bem as diferentes versões do Doutor Estranho encontradas no multiverso. O arco do personagem e tema central do filme, de abrir mão daquilo que não se pode ter, é simples mas funciona no seu caso. Xochitl Gomez como America Chavez é uma ótima adição, a personagem possui uma divertida dinâmica com o Doutor Estranho. O longa é abarrotado de sequências de ação, que em sua maioria funcionam muito bem. Os elementos de terror são bem empregados por Raimi, criando sequências incríveis. Algumas subversões de expectativas trazem ótimos momentos, mas podem não agradar a todos, assim como algumas sequências que vão longe de mais em sua ‘Loucura’.
O roteiro inconsistente acerta na criatividade que apresenta o Multiverso, mas peca em caracterização e arcos dramáticos. Mas com ótimas interpretações de Olsen e Cumberbatch e uma excelente direção de Raimi, o longa é divertido e refrescante o suficiente.