Dirigido por Joachim Lafosse, ‘The Restless’ possui uma abordagem sincera e nada sutil sobre o transtorno bipolar, mas encontra um meio termo compreensivo entre amar alguém e saber que não pode ajuda-lo.
O filme conta a história de Damien (Damien Bonnard), um pintor que sofre de transtorno bipolar e, durante uma crise onde se recusa a tomar o medicamento necessário, conta com a ajuda de sua esposa Leila (Leïla Bekhti), a qual faz de tudo para manter o controle. O filme é simples e direto ao mostrar como essa família lida com o distúrbio e com as ações de Damien, onde essas afetam todos ao seu redor, mas principalmente como Amine (Gabriel Merz Chammah), seu filho, se vê completamente desamparado com um pai doente e uma mãe a beira de um colapso.
Nem todas as tentativas do roteiro funcionam, o filme muitas vezes mostra o transtorno bipolar de uma maneira caricata e genérica e, por mais que seja bem intencionado, acaba soando um pouco exagerado. É angustiante observar a imprevisibilidade de Damien e suas intensas mudanças de humor durante a primeira hora do longa, mas as ações que no começo eram imprevisíveis, se tornam esperadas e repetitivas por conta da duração do filme, que se beneficiaria de uma edição melhor. Mas o melhor aspecto criado pelo roteiro é a sinceridade ao mostrar de maneira humana essa família desajustada. Com um texto menos cuidadoso, Leila poderia ser vilanizada por desistir de Damien, mas aqui conseguimos entender suas motivações e o peso que ela carrega por ter que servir de mãe e esposa para seu marido.
Com destaque pra fotografia de Jean-François Hensgens, o filme é tecnicamente bem executado e impressiona pela riqueza visual criada por ele e por Lafosse, que dirige com a delicadeza necessária para criar intimidade entre o espectador e os personagens. O diretor opta por mostrar o transtorno bipolar como uma força da natureza da mesma intensidade das ondas do mar que são mostradas ao final do filme, e o resultado que por mais melodramático que seja, mostra a sensibilidade dele com esse projeto.
Bonnard interpreta bem o seu papel e consegue transmitir a bagunça emocional causada pelo seu distúrbio, mas a grande estrela e coração do filme é Bekhti, que abraça as nuances da sua personagem que inicialmente parece blindada as instabilidades de seu marido, mas que com o desenrolar da história demonstra o impacto que isso tem em sua vida. São nas cenas em que Leila está sozinha que Bekthi consegue entregar a vulnerabilidade e leveza dessa mulher emocionalmente sobrecarregada.
Ao final do filme, fica nítido que essa batalha incansável que é o transtorno bipolar não terá fim, mas que os personagens estão preparados para enfrenta-la de frente, abraçando os resultados por mais difícil que eles sejam.