MVFF44 – Ninjababy

No cinema, a gravidez já foi abordada de diversas maneiras, mas a comédia dramática norueguesa chamada Ninjababy é de longe uma das mais criativas e únicas.

O filme dirigido por Yngvild Sve Flikke conta a história de Rakel (Kristine Thorp), uma jovem que sonha em ser quadrinista, e que, após um encontro sexual, descobre estar grávida de seis meses. No começo, ela considera que o seu novo professor de auto defesa – com quem ela havia se relacionado no passado – seja o pai da criança, mas essa possibilidade é descartada quando ela é informada do estágio da gravidez. Com isso, Rakel vai atrás de Pikkjesus (Arthur Berning), um homem que ela havia se relacionado seis meses antes. Após encontrá-lo, os dois concordam que nenhum deles queria um filho, e que a melhor solução seria colocar a criança para adoção.

Durante o processo de adoção, Rakel começa a se preocupar com o futuro da criança. Ela questiona todas as informações que recebe e quer decidir quem serão os pais adotivos. Ao perceber que a tarefa era difícil demais, sua meia irmã decide que vai adotar a criança, para que Rakel faça parte da vida dela de algum jeito. Tudo parecia estar se encaixando, até que Pikkjesus decide que não conseguiria viver com a culpa de ter rejeitado a própria filha. No meio da discussão, a bolsa de Rakel estoura e ela é levada para o hospital.

Após isso, o filme muda completamente o tom. O que antes era cômico (tanto no visual quanto na narrativa), agora é um estudo sobre a gravidez indesejada e o direito de não querer ser mãe.

A direção é delicada, criativa e inteligente, além disso, o roteiro é excelente. Em nenhum momento Rakel é vilanizada por sua escolha, pelo contrário, o filme mostra que Rake, assim como todos, possui complexidades e está sujeita a ser imperfeita. O roteiro ainda dá vida ao bebê de quadrinhos que Rakel criou, com o intuito de nos dar mais informações sobre o que ela pensa e sente. As cenas em que os quadrinhos se misturam com a realidade são um dos melhores momentos do filme. Grande parte dessas cenas são cômicas, porém perto do final uma delas é de partir o coração, e nunca ficar triste foi tão bom.

Kristine Thorp é sem dúvidas a melhor parte do filme, ela entrega sutileza e complexidade em qualquer cena, seja ela cômica ou dramática. Ela diz tudo que precisamos saber com apenas com o seu olhar. É uma das melhores e mais completas performances do ano até então, e a versatilidade que ela exibe nos últimos trinta minutos do filme é impressionante.

Engraçado, único, comovente e conciliador. São essas as palavras que descrevem Ninjababy. O filme pondera todas as complexidades de uma gravidez de maneira humana, delicada e verdadeira.