Locarno 2025 – Dry Leaf, Sorella di Clausura & Exile

Pode parecer uma colocação vaga, já que esse sempre foi um aspecto recorrente na atualidade dos filmes de Hollywood, mas é nítido o quanto as produções têm buscado ser cada vez mais rápidas. Muitas vezes, apelam para um uso absorto de elementos que surgem e desaparecem na tela como se estivéssemos rolando um feed: pulando de uma distração para outra, sem tempo para respirar. Dry Leaf, de Alexandre Koberidze, assim como outros filmes que se isentam dessa metragem cada vez mais apressada, chama atenção justamente por prender nosso olhar com um andamento que não se preocupa em ser rápido, ainda que trate de um tema urgente, como o desaparecimento de alguém e a busca por seu paradeiro, no melhor estilo road movie.

Mas não se engane: Dry Leaf não é uma obra fácil de ser mastigada. A captura de Koberidze, que faz uso de imagens analógicas ao longo de suas três horas de duração, diz muito sobre suas escolhas e em como diretor busca se opor às armadilhas da contraposição estética, aquela que privilegia uma fotografia limpa, cristalina, visualmente estimulante. Não é que ele não se importe com isso; na verdade, importa-se profundamente, mas utiliza esse cuidado como parte dos elementos narrativos. É um componente do drama, da ideia de olhar alguém em busca de algo, uma intimidade, uma nostalgia até. E é assertivo nesse gesto, sobretudo por mostrar que, assim como Hong Sang-soo em In Water, nossos olhos também fazem parte da cognição afetiva advinda da absorção de uma obra como essa. E, sinceramente, não vejo ninguém além deles propondo esse tipo de provocação através da forma.

Mais do que isso, há vários outros componentes que conferem ao longa uma vantagem de linguagem sobre sua aparente simplicidade. Há o som – uma trilha ambiente com instrumentos de sopro, corda e metais – que substitui o silêncio em momentos em que o diretor apenas pretende mostrar, evidenciar trechos da jornada: o carro sendo lavado, um caminhar lento, uma contemplação da paisagem e das pessoas que cruzam as lentes. É um filme natural, mas não apenas por seu tom orgânico na composição ou nos cenários; e sim pela forma como ele nos é transmitido. Isso diz muito sobre o momento em que ele surge. No duelo entre os grandes longas de Hollywood e as pequenas mostras expositivas de narrativas descentralizadas, Dry Leaf é, sem dúvida, um dos vencedores.

Sorella di Clausura, o terceiro longa de Ivana Mladenovic, é tão pop quanto melodramático. No filme, acompanhamos a história de uma mulher apaixonada por um músico sérvio da ex-Iugoslávia. Ela faz de tudo para conhecê-lo, aparentemente imperturbável diante da crise e da dificuldade de manter um emprego, apesar de suas boas qualificações. Isso revela uma abordagem perspicaz de questões que transcendem a dura realidade e a necessidade de refúgio, tratando tudo como provocações.

O filme tem um apelo pop porque usa a paródia para tecer esse retrato. E funciona de fato, pois seus visuais e cenários vibrantes, com inúmeros elementos – às vezes desorganizados, às vezes excessivamente organizados – tornam a ideia de crise econômica ainda mais real, com base nos eventos financeiros que atingiram o mundo em 2008 e deixaram cicatrizes em grande parte da União Europeia. A disposição de Ivana em se concentrar em questões externas que envolvem seus personagens confere ao filme um realismo dramático que pode, em muitos casos, preceder a dependência de que tudo se desenrole dentro da estrutura estabelecida pelo texto.

É por isso que a personagem Stela, brilhantemente interpretada por Katia Pascariu, deve estar decepcionada com seu ídolo, ao descobrir que ele só se importa com dinheiro, e o dinheiro assume um significado valioso diante de uma crise, ditando relacionamentos e os aspectos simples da vida — e da sobrevivência — diante de tais dificuldades. O corpo de Stela se torna um retrato, com cenas de nudez que sugerem a simplicidade de seu desejo, uma necessidade de satisfação. Não há dúvida de que Ivana escolhe esse tipo de cinema para nos fazer acreditar que, acima de tudo, somos permeados por uma dependência constante de nossas próprias pretensões.

O epicentro temático de Exile, do aclamado diretor Mehdi Hmili, está a vingança. Mas, mais do que isso, há no filme um interessante olhar em questões trabalhistas, sociais e de temperamento humano. Beira, em alguns momentos, o absurdo: trata-se da história de Mohamed um trabalhador que, após sobreviver a uma explosão que tirou a vida de seu amigo, Adel, precisa viver com um pedaço de metal alojado em sua cabeça. Neste ponto, cria-se uma teia de situações que percorrem tanto o plano do protagonista, quanto a forma como a situação se desenrolou.

Como todo trabalhador, Mohamed sofre com a negligência dada pela força de seu trabalho. E o filme é categórico em mostrar isso. Mostra também as condições de trabalho, a vida difícil que tanto ele quanto os seus colegas têm que enfrentar todos os dias. E, aquilo que evita mostrar, o diretor busca ainda assim buscar meios, como o fato da siderúrgica em que a narrativa se atém ser uma empresa estatal à beira da falência, e que pode ser privatizada a qualquer momento. A negligência e as péssimas condições de trabalho decorrem desses fatos, do sucateamento e da cooptação do setor privado de um posto de trabalho estratégico, como ocorre em todo o mundo.

Esses contornos da realidade conferem ao longa uma densidade que se concretiza em sua tonalidade amarelada, com pontos de luz que se dissipam naturalmente. Todo esse aparato serve principalmente para sustentar a história, o que dá ao filme um caráter de suspense, um thriller, disposto a tratar seus temas com certo desdém, e não de forma negativa. Ao evitar estruturas típicas ou se apegar a considerações estilísticas, o filme ganha força em construções narrativas/visuais como as vistas aqui, alcançando assim seus objetivos.


VEJA TAMBÉM