Cannes 2025 – Críticas do 4º dia

Eddington (Ari Aster)

“Se ‘Eddington’ é uma máquina de gerar discurso tão poderosa, que faz ‘Guerra Civil’ parecer um brinquedo de corda, não é porque escolhe um lado político — e também não cai no tédio introspectivo do épico do Alex Garland por se recusar a fazer isso explicitamente.”

IndieWire (91/100)

“Se ‘Beau Tem Medo’ parecia tratar dos medos e neuroses do próprio Aster, ‘Eddington’ fala dos medos e neuroses mais gerais dos EUA no ano de 2020. O filme provavelmente teria sido melhor se fosse mais focado (e mais curto), mas a visão insana de Aster faz a maioria dos diretores parecerem covardes em comparação.”

BBC (80/100)

“Ari Aster tem um lado meio indulgente, e embora isso esteja mais controlado aqui, dá pra sentir que ele se deixa levar um pouco. Mas isso também faz parte do que torna ele um diretor tão interessante. Ele quer mostrar o grande panorama, e mesmo que ‘Eddington’ não seja um filme de terror, ele alcança um tipo de loucura que você vai reconhecer com um certo arrepio.”

Variety

“Eddington pode até parecer um passo atrás pro Ari Aster quando pensamos nos visuais marcantes e na forma como ele cria aqueles pesadelos intensos. Mas, na verdade, o filme mostra que ele sabe trazer esses pesadelos pra dentro da realidade.”

Collider (80/100)

“Embora todas as suas partes não se encaixem perfeitamente, ‘Eddington’ é o que se poderia chamar de uma grande aposta — um filme mais sério do que parece à primeira vista, que enxerga a Covid como o Big Bang que nos trouxe exatamente até onde estamos agora. Trata do elefante na sala: o surgimento de figuras como QAnon, 4Chan e os Proud Boys — fenômenos que causaram mais danos do que a própria Covid, deixando uma ferida aberta e ainda purulenta. Sem cerimônia nem piedade, ‘Eddington’ arranca o curativo, e nem todo mundo vai querer olhar ou pensar no que há por baixo dele.”

Deadline

“‘Eddington’ é uma visão insana voltada para os inúmeros males que ainda assolam a nação — o vício em armas, a fixação doentia por teorias da conspiração, a incapacidade venenosa de distinguir entre verdade e fake news —, mas o roteirista/diretor transforma essas inspirações em uma narrativa fraca e hiperbólica, que oferece poucos insights sobre os problemas reais que identifica.”

Screen Daily

“Todos os ingredientes estão presentes em ‘Eddignton’, mas Ari Aster não segue uma receita equilibrada, seja no conteúdo, seja no ritmo. O resultado é uma salada mista que alterna longos trechos tediosos com explosões de caos absoluto.”

London Evening Standard (40/100)

The Little Sister (Hafsia Herzi)

“A atuação de Melliti é contida e até meio difícil de decifrar, especialmente quando comparada à ótima performance de Park. Essa dificuldade vem, em parte, por ele não ser um ator profissional, mas também porque é o tipo de opacidade que a gente vê na vida real. Justamente por isso, quando ele se emociona ou chora, isso mexe com a gente. E no fim das contas, Herzi mostra que essas crises e confrontos talvez nunca se resolvam por completo, mas dá pra lidar com eles cada vez com mais maturidade. É uma direção sutil e bem feita da Herzi.”

The Guardian (3/5)

“A atuação revelação de Melliti é super contida, mas nunca distante ou difícil de sentir. A câmera de Jérémie Attard fica focada no rosto dela em momentos silenciosos, quando as lágrimas começam a cair diante da pressão enorme de ver sua repressão — seja religiosa, autoimposta ou outra — começando a desmoronar. Melliti e Herzi conseguem criar uma conexão rara entre atriz e diretora, contando a história de outra pessoa, mas que talvez tenha um pouco da história de cada uma delas também.”

IndieWire (B-)

“Sendo o ponto de equilíbrio de um drama que, em muitos momentos, mantém o público à distância, Melliti entrega uma atuação contida, mas hipnotizante, como uma jovem tentando encontrar seu lugar no mundo. O filme depende totalmente dela, o que torna ainda mais empolgante ver como ela segura tudo com tanta delicadeza e profundidade.”

The Wrap

“Sensível e empático, mas um pouco tímido na narrativa e no estilo, The Little Sister se apoia bastante na atuação da estreante Nadia Melliti, que tem uma presença marcante que transmite as vulnerabilidades e inseguranças de Fatima por trás de uma postura retraída.”

Variety

“Herzi conduz com segurança o que poderia ter sido uma história tradicional de descoberta sexual e transforma em algo muito mais desafiador, um estudo de personagem que se passa nessa zona indefinida entre as certezas opressivas da infância e as liberdades sedutoras do começo da vida adulta.”

Deadline

“Vibrante e cheio de sentimento, mas ao mesmo tempo impressionantemente controlado — e com uma atuação central simplesmente arrebatadora — The Little Sister é, sem dúvida, um clássico instantâneo do gênero, tão emocionante em seu humanismo quanto em sua sensualidade”.

Hollywood Reporter

“Esta adaptação do romance premiado de Fatima Daas, The Last One, embora retrate de forma vívida a vibrante cultura lésbica de Paris, parece curiosamente leve e modesta no impacto emocional, considerando a enorme luta interna que a personagem principal enfrenta.”

Screen Daily

The Chronology of Water (Kristen Stewart)

“Quando atores famosos decidem tentar a sorte como cineastas, os resultados podem ser — e frequentemente são — pouco notáveis por natureza. Tímidos e seguros, com uma estética de TV aberta que grita: “Estou muito mais assustado atrás das câmeras do que na frente delas.” Esse não é o caso de “The Chronology of Water”, de Kristen Stewart. Nem de longe. Alguns filmes são apenas filmados. Este foi dirigido.”

IndieWire (83/100)

“Eu senti falta de mais diálogos — de mais tempo para realmente conhecer Lidia além do que é poeticamente, mas vagamente, elucidado em narração. Poots é mais do que um simples receptáculo para trechos do livro, mas ela se beneficiaria de um roteiro que lhe desse mais com o que trabalhar no presente de cada cena. O efeito completo do mosaico de cortes rápidos de Stewart é que Lidia, e Poots, parecem apenas flutuar pelo filme, em vez de vivê-lo. Ainda assim, aplausos para Stewart por se lançar em algo ousado e complexo em sua primeira tentativa, e por trazer mais atenção a um aclamado, porém pouco conhecido, livro de memórias. Talvez seja melhor ler o livro antes e, depois, assistir ao filme como um tipo de material complementar — o mais artístico possível.”

Vanity Fair

“Em muitos aspectos, é algo digno de admiração. Stewart conseguiu encontrar uma forma que corresponde à qualidade espinhosa e visceral da prosa de Yuknavitch, como fica evidente nas leituras dentro do filme e em seu tema central: o trauma. O filme também mantém um apoio inabalável à personagem principal, que às vezes é difícil de suportar. Ao mesmo tempo, tanta complexidade técnica acaba criando uma certa distância em relação ao que está sendo contado. Nós vemos o que aconteceu com Lidia Yuknavitch, entendemos, reconhecemos a arte de Stewart. Mas o efeito final, para ser sincero, é um pouco frio.”

Deadline

“Atores se aventurando na direção não é novidade, mas é improvável que você já tenha visto uma estreia na direção tão ousadamente confiante e emocionalmente precisa quanto The Chronology of Water, de Kristen Stewart. Atuando em total sincronia com Stewart, Poots incorpora as muitas complexidades de Lidia. Ela é uma força emocional marcante e centrada, que faz com que as grandes apostas do filme realmente tenham impacto.”

The Wrap

“Chega a flertar um pouco com o clichê, mas há compaixão e ambição narrativa aqui. Apesar disso — e de algumas indulgências típicas de filmes independentes iniciantes — trata-se de uma obra sincera e comovente, com Kristen Stewart conduzindo atuações fortes e inteligentes.”

The Guardian (60/100)

“A atuação intensamente dedicada de Imogen Poots quase consegue resgatar as indulgências de direção da estreante e ex-estrela de Crepúsculo, Kristen Stewart. É menos uma construção de personagem e mais um espetáculo solo.”

The Times (60/100)

“Kristen Stewart vai além de tudo isso. Como roteirista e diretora, ela trabalha no limite — fazendo um filme totalmente centrado na consciência, que mostra tudo sem jamais explicar de forma óbvia. Ela apresenta a história de Lidia Yuknavitch como uma série de momentos impressionistas em close, que se gravam na mente como se cada cena fosse uma frase arrancada de um diário escondido. Essa é a beleza do que o cinema pode fazer. Ele pode ser voyeurístico e honesto — nos oferecer vislumbres privilegiados do proibido, do que as pessoas realmente são, de toda a sujeira, dor e desejo que tentamos esconder.”

Variety

VEJA TAMBÉM