Coringa: Delírio a Dois (2024)

Avaliação: 2 de 5.

Coringa: Delírio a Dois seria o controle de danos perfeito de Todd Phillips, que, numa guinada para Nolan, e não necessariamente para Scorsese, em quem ele diz se inspirar, instigou uma legião de pessoas que, acredite ou não, se identificam com a história de Arthur Fleck (o Coringa), que agora está preso tendo que enfrentar a justiça por seus crimes enviesados pela sua própria persona, uma balança enferrujada e sem precisão que o diretor parece nunca querer abandonar.

Esta foi uma oportunidade para Todd ser incisivo ao se opor à maneira como as pessoas veem seu personagem além do que ele realmente representa, mas a força que ele investe nisso parece inexistente diante dos excessos que o filme adota para talvez comprovar uma discussão sobre questões mentais que quase nunca significam nada. Neste ponto, Todd também se volta para Nolan, ainda mais por adotar uma literalidade que se converge em um fragmento bastante marcado do texto — o delírio a dois é porque as cenas musicais são imagens da cabeça do Coringa em que ele dança e canta com Alerquina sobre um fundo preto repetidas vezes.

E a Alerquina, já incitada no quão coadjuvante deveria ser, dá a Lady Gaga uma posição inofensiva. E talvez seja a coisa mais bem colocada de todas, já que a maioria das cenas musicais, puramente atreladas à imaginação do Coringa, precisam dela como o gancho — o elo díspar entre realidade e não realidade.

Essa relação com a realidade, aliás, é o que torna Todd frágil em seu senso de exposição. Aqui, ele está entre condenar o condenável e fazê-lo da pior forma possível (cenas de violência que recorrem ao fato do protagonista, no âmbito do que é considerado em seu processo legal, ter sofrido violências distintas, e que precisa passar pelo mesmo até onde ele se encontra preso, indefeso e mais uma vez vítima). É nesse sentido que as cenas do tribunal, simplesmente inócuas, falham em lançar luz sobre o que poderia ou não pôr fim às acusações de Todd, que assim como Nolan (mais uma vez), despertou o interesse de uma ruma de incels que usarão seus truques baratos de estudo de personagem para dizer que isso é, não apenas um fato de identificação, >cinema<.

No final das contas, essa questão não resolvida acaba sendo menos importante do que a quantidade de coisas amontoadas ao longo de mais de duas horas apenas para explicar a necessidade de uma sequência. Esse debate é antigo, mas as cenas musicais repetidas, que surgem da mesma forma o tempo todo, inauguram um novo nível de tédio — havia muitas pessoas saindo da sessão toda vez que Joaquin Phoenix abria a boca. E isso talvez comprometa qualquer uma das intenções do diretor, seja querer prolongar seu impacto em Hollywood, desviar-se de um caminho demográfico irrisório ou ousar praticar gêneros que aqui parecem sem direção.


VEJA TAMBÉM