A princípio, ‘Armadilha’ se assemelha a outros filmes de M. Night Shyamalan ao começar de maneira direta, com o diretor evitando longas introduções e partindo para uma resolução prática na primeira parte do filme. O primeiro ato tem bastante a oferecer e cumpre com êxito toda uma subversão do suspense apresentado, fugindo de elementos sobrenaturais ou até mesmo sugestivos como nos outros filmes do diretor.
O espaço limitado do show é bem aproveitado, e o controle do personagem principal é constantemente reforçado. Cada vez que ele deixa sua filha e volta com um presente, tenta escapar da armadilha em que se encontra, mas sem perder o controle. Embora disposto a arriscar, ele não compromete tudo, mantendo clara a dinâmica de ‘gato e rato’.
No entanto, apesar de não perder a compostura, o desespero interno do protagonista se torna evidente à medida que suas tentativas falham. Suas falas nervosas e seu olhar ansioso compõem uma atuação espetacular de Josh Hartnett, uma das melhores do ano. A ideia de que tudo pode acabar diante de sua própria filha assombra o personagem, alimentando as expectativas do espectador. O filme é autoconsciente disso, especialmente ao mostrar a filha percebendo o comportamento do pai, que, apesar de enganar os outros, não consegue convencê-la de que está tudo bem.
Quando o filme encerra a parte do show, a trama começa a desandar. Embora haja momentos interessantes, como a cena em que a cantora (Saleka Shyamalan) confronta o vilão de maneira imponente e forma-se uma tensão em meio a uma transmissão ao vivo no instagram, é difícil ignorar a pressa desnecessária que se instala a partir daí. As situações perdem a força e a personalidade que caracterizam outros filmes de Shyamalan, resultando em uma carga dramática fraca, especialmente em cenas como a da cantora fingindo ser a mãe do vilão no carro.
A desconstrução da tensão cuidadosamente construída até o final do filme soa vazia. As sequências de ‘finais’ e tentativas de criar momentos marcantes falham, resultando em uma conclusão decepcionante. Nem mesmo a mente genial de Shyamalan consegue tornar essa parte do filme minimamente interessante. Em resumo, ‘Armadilha’ é um filme que, apesar de uma primeira parte promissora e da atuação marcante de Josh Hartnett, se perde tristemente quando a direção entra em um piloto automático pouco cativante, entregando um final que contrasta com outras obras do diretor.

