Nas ruas de Teerã, capital do Irã, Amir (interpretado por Amir Pousti) segue sua vida solitária conduzindo sua carreira ligada ao tráfico de drogas. Seu único companheiro é seu cachorro, cuja expressão parece refletir o mesmo tédio que ele enfrenta durante suas entregas. Além dele, as principais interações de Amir parecem ser com o seu GPS, que ao longo do trajeto lhe diz as direções que deve seguir. Ele atravessa toda a cidade, buscando, transportando e entregando uma variedade de substâncias ilícitas, enfrentando situações de extrema periculosidade. No entanto, a princípio, nada disso parece particularmente envolvente. O que destaca as habilidades de Ali Ahmadzadeh, o diretor e roteirista responsável pelo filme, é a maneira como ele guia a narrativa com uma direção inteiramente inventiva e vívida, ao mesmo tempo que realça as questões sociais do país.
A Teerã em si surge como um dos protagonistas principais na obra de Ahmadzadeh. Todas as conexões, interações e passagens estão intrinsecamente ligadas ao ambiente da capital, que, capturado pelas lentes de Abbas Rahimi, nunca pareceu tão vibrante. A fotografia de Rahimi, inclusive, é utilizada para aprofundar a divisão social presente na cidade. O retrato aqui é notavelmente distinto daquele que serviu de cenário para os filmes do cineasta Asghar Farhadi. “A Separação” (2011) e “The Salesman” (2016), dois de seus maiores filmes, foram filmados na localidade, e a diferença que existe na abordagem dos dois diretores não poderia ser mais evidente. Em “Critical Zone”, o ambiente urbano e moderno evidencia um lugar muito mais receptivo — mesmo que menos humano — do que nos filmes de Farhadi, onde todas as ações são seguidas por uma série de julgamentos de um lugar onde a cultura molda a vida de seus habitantes. Não que, no filme de Ahmadzadeh, os personagens estejam isentos desses preconceitos, mas a perspectiva do diretor revela uma cidade consideravelmente mais aberta ao novo.
As interações de Amir ao longo do filme, em grande parte, estão restritas aos seus clientes, que, assim como ele, buscam maneiras de prosseguir com suas vidas. Embora essa abordagem seja sutil, há um subtexto filosófico subjacente ao personagem de Amir — algo que provavelmente só é eficaz graças à precisão da interpretação de Pousti. O personagem parece estar envolvido nesse tipo de atividade não apenas por necessidade financeira, mas também para ter algo que alimente o seu anseio. A rotina que presenciamos parece ser a única coisa que motiva Amir a interagir com o mundo ao seu redor.
As viagens parecem estar repletas de diálogos vazios. Em uma delas, Amir entra em uma discussão com sua passageira sobre por que pessoas da sua geração têm uma preferência tão grande pela maconha em comparação com outras drogas. Ele argumenta que o haxixe é uma opção superior e mais saudável, porém seus esforços para continuar a conversa são em vão, uma vez que ela parece completamente alheia ao que ele está dizendo. Apesar de cenas como essa, não existe um julgamento geracional na perspectiva de Ahmadzadeh. Ele parece compreender as razões de todos os seus personagens, de tal maneira que o filme nunca adota um discurso didático sobre o mundo no qual o personagem está inserido. Apesar de ser consciente sobre a questão de classe que envolve o comércio e o uso de substâncias ilícitas, o diretor decide não deixar explícito suas intenções. Grande parte dos clientes de Amir parecem ser bem estabelecidos profissionalmente e financeiramente, incluindo uma de suas clientes/amigas na qual ele divide a melhor sequência do filme.
Apesar da simplicidade do seu enredo, Ahmadzadeh nunca deixa seu filme esfriar. Por meio de diversas técnicas e elementos visuais, que variam de cenas frenéticas em perspectiva até um movimento de câmera singular, o trabalho do diretor nunca parece nada menos do que ambicioso. A singularidade e a visão que ele compartilha em um simples trajeto pela cidade se assemelha muito ao trabalho de Panah Panahi, filho de Jafar Panahi, em “Pegando a Estrada” (2021). Entre suas semelhanças, ambos os projetos foram concebidos por cineastas relativamente iniciantes, que conseguiram criar filmes político-sociais excepcionalmente únicos a partir de enredos aparentemente comuns. Na perspectiva do diretor e de seu personagem principal, não há um futuro promissor na cidade de Teerã. O pessimismo na maneira com que Ahmadzadeh retrata o fato de que, na busca por escapar de sua vida monótona, Amir tenha entrado em outra aparentemente sem saída, pode não comover em um primeiro momento. Contudo, assistir sua volta para casa e a constatação de que nada o espera lá, acrescenta um peso duradouro à imagem final do filme.

