Barbie

Avaliação: 4.5 de 5.

No mundo mágico das Barbies, “Barbieland”, a Barbie Estereotípica (Margot Robbie) começa a perceber que não se encaixa mais com as outras. Depois de ser expulsa, ela parte para uma aventura no “mundo real”.

Depois dos ótimos ‘Lady Bird – A Hora de Voar’ e ‘Adoráveis Mulheres’, Greta Gerwig encontrou em ‘Barbie’ seu terceiro projeto de direção solo. Com base em seus trabalhos anteriores, desde o anúncio, foi criada uma expectativa de que o longa não seria apenas uma propaganda sem alma de 90 minutos para vender mais bonecas. E com a cena de abertura, fica claro que essas expectativas não eram infundadas. Inspirada em ‘2001: Uma Odisseia no Espaço’, a sequência mostra garotas quebrando suas bonecas bebês após contemplar a primeira versão da Barbie, a boneca adulta que propiciou o vislumbre de um futuro onde as meninas não teriam que se tornar apenas mães.

“Barbieland” é apresentada como uma utopia, onde tudo é perfeito do ponto de vista das inúmeras Barbies que ocupam todas as profissões existentes. O realismo mágico da direção de arte de Sarah Greenwood traz este mundo rosa à vida com magníficos sets que traduzem a imaginação de brincar com uma Barbie Dreamhouse. E Jacqueline Durran recria com maestria as diversas roupas que a boneca trajou durante as décadas. A Barbie interpretada por Margot Robbie nos conduz em sua perfeita rotina na fantástica vida de plástico, com o Ken interpretado por Ryan Gosling vivendo apenas na sua sombra, buscando sua atenção.

Neste mundo ideal, as Barbies acreditam que todos os problemas das mulheres no “mundo real” foram corrigidos com sua criação, como é apresentado em um momento hilário. De fato, a comédia de ‘Barbie’ funciona muito bem na maior parte do tempo. A direção de Gerwig concebe um longa divertidíssimo que mantém a alegria do início ao fim. O humor, às vezes bobo, às vezes ácido, faz com que toda a mensagem que o filme quer transmitir não se torne enfadonha. Os momentos envolvendo a Mattel e seus executivos, a ótima Kate McKinnon como a Barbie Esquisita, Michael Cera no papel de Allan, e a boneca grávida Midge (Emerald Fennell), estão espalhados como um glitter cômico ao longo do filme.

“Do You Guys Ever Think About Dying?”

Mas nem tudo são flores. Quando as adversidades do “mundo real” começam a invadir a mente da Barbie, ela relutantemente viaja em busca de corrigi-las. O segundo ato do filme contém momentos estranhos e também doces, que nunca perdem o sentido, construindo uma memorável aventura.

O excelente monólogo de Glória (America Ferrera) é reminiscente daquele da personagem de Laura Dern em ‘História de um Casamento’, escrito por Noah Baumbach, que também escreveu ‘Barbie’ com Gerwig. A cena ilustra todas as contradições que as mulheres devem habitar para permear uma sociedade dominada pelo patriarcado. Mas o maior recurso do roteiro é o Ken. Através da incrivelmente charmosa interpretação de Ryan Gosling, o personagem se torna uma sólida ponte para viabilizar a empatia daqueles que poderiam revirar os olhos para a mensagem.

Assim como a sacada de estrutura e mudança do final em ‘Adoráveis Mulheres’ tornou o filme uma adaptação perfeita, a conceituação de uma “Barbieland” com o status social de mulheres e homens invertidos potencializou ainda mais o roteiro de ‘Barbie’.

“What Was I Made For?”

Margot Robbie foi a escolha perfeita para a Barbie, não só por sua aparência, ela irradia todo o júbilo da personagem, assim como também a incerteza de seu propósito após a quebra da ilusão em que vivia. Gerwig constrói momentos bastante emocionantes no fim do longa com a busca de finalidade que a personagem procura. Assim como a boneca, talvez seja suficiente ela apenas existir como um amontoado de contradições.