Olivier, Olivier (1992)

Avaliação: 5 de 5.

Ao utilizar uma família nuclear como o cerne de sua análise quase religiosa em torno de questões como luto, negligência e os laços familiares que nos unem e nos separam, Agnieszka Holland constrói um retrato perfeito, ainda que um tanto disfuncional, de personagens que anseiam por algo em que se possa acreditar. A maneira como ela trabalha até mesmo com as simples questões do cotidiano dessa família deixa explícitos os jogos mentais que existem por trás de cada personagem. A mãe prefere o filho homem à filha mulher, o pai ausente tenta suprir sua ausência culpando todos ao seu redor, e a criança negligenciada busca aprovação daquela mulher que nem sequer olha pra ela. Todas essas questões espreitam por debaixo da pele desses personagens até que Olivier, o filho mais novo do casal, some misteriosamente. Os sentimentos provocados pelo luto começam a evidenciar tudo isso que já foi mencionado, e não demora muito para que a família toda desmorone. Seis anos após seu desaparecimento, um jovem que teria a mesma idade de Olivier aceita o papel que lhe parece de direito: agora ele é Olivier.

A câmera de Holland parece destacar os momentos mais etéreos dessa história. Um balanço se mexendo sozinho ganha um novo significado conforme os personagens passam a possuir tudo aquilo que eles haviam procurado: a volta de Olivier. No entanto, existe algo no centro dessa questão que parece vazio. Assim como em “Changeling”, de Clint Eastwood, a identidade de Olivier parece incerta, quase difícil de acreditar. É verdade que o jovem conhece as dinâmicas familiares daqueles personagens, mas mesmo assim algo parece não concluir essa história. A permanência de Olivier deixa de ser algo físico e torna-se algo espiritual: o que importa não é a sua presença, mas sim o seu significado. Ele representa para aquela família tudo aquilo que perderam, então nada mais justo do que considerar seu retorno como uma verdade absoluta.

Acontece que Holland parece não se contentar com a exploração de apenas um gênero; o que anteriormente se enquadra como um drama familiar agora se torna uma espécie de thriller. O entrelaço sexual de Nadine com seu suposto irmão Olivier pode parecer uma provocação barata da diretora, mas a verdade é que cenas como essas parecem evidenciar ainda mais os jogos de poder e controle que existem no centro dessa família. Se para seus pais a volta de Olivier representa uma espécie de milagre, para Nadine aquilo representa o retorno do seu eclipse.

Essas questões de melodramas familiares evocam o que há de melhor nos filmes de Douglas Sirk, mas, diferentemente da maioria de seus filmes, é a sobriedade — tanto narrativa quanto visual — com que Holland lida com essas questões que faz com que o seu trabalho realmente funcione. Mesmo quando palavras duras movidas pelo sentimento de raiva e negação jogam sal na ferida daqueles personagens, ainda existe uma ternura desconcertante no seu centro. É claro que eles diriam aquelas coisas; como poderia se esperar diferente?


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