Buffalo 66 (1998)

Avaliação: 3.5 de 5.

Nos seus primeiros minutos, ‘Buffalo 66’ soa predominantemente como um típico longa de estreia de um ator que ganha fama e, na primeira oportunidade, realiza seu grande sonho de adentrar no mérito da direção. Felizmente, essa sensação dura apenas alguns minutos, pois o debut atrás das câmeras do já conhecido Vincent Gallo, apesar de em certos momentos deixar a desejar, é um clássico e, na sua maior parte, uma competente história sobre uma face disruptiva do sonho americano.

O filme conta a história do dia em que Billy Brown (Vincent Gallo) deixa a prisão onde passou os últimos cinco anos de sua vida. Ao sair dali, ele tem o objetivo de visitar seus pais, levando com ele sua esposa que, na verdade, ele não tem. Assim, acaba por sequestrar uma moça chamada Layla (Christina Ricci), a quem ele obriga a fingir ser sua mulher. A relação de Billy e Layla funciona principalmente da metade para o final do filme, quando percebemos que ela, e logo depois nós também, acaba aceitando tudo que Billy é e representa.

Quando somos apresentados aos pais de Billy, podemos entender a origem de seu comportamento. Afinal, os dois são personagens bastante característicos, e é nesse ponto que o “teatro” do filme começa. “Atuação, isso é atuação, hoje é seu debut”, as ordens de Billy para Layla são claras. O fingimento a partir dali toma conta de todos, inclusive dos pais, que, querendo ou não, também estão “atuando” e “fingindo”, principalmente sobre estarem felizes com a presença de Billy. Mas, quando estão sozinhos ou presos a suas próprias ilusões, as máscaras caem, e é possível ver a real personalidade de cada um, tornando o típico “sonho americano” a última coisa que serviria de comparação aqui, podendo ser considerado até mesmo seu antagonista.

A personagem de Christina Ricci, Layla, é na qual mais conseguimos enxergar uma reação real e “humana” a tudo que está acontecendo. Ela não está fazendo tudo aquilo porque Billy a está obrigando, mas sim porque gosta da ideia, e com isso, acaba se apaixonando por Billy. Ela declara palavras de amor a ele com a maior sinceridade do mundo, e, em contraste, Billy demora bastante tempo para de fato chegar até mesmo a ouvi-las. Ela funciona como a personagem mais “próxima” do espectador, já que é a primeira a adivinhar os próximos passos de Billy, mesmo ele não os contando.

O filme tem seu maior mérito na direção, justamente pelo fato de Vincent lidar com tudo como se fosse um grande espetáculo teatral. É apenas uma noite, e tudo acontece, desde cenas musicais e de danças até a encenação de um assassinato. Ele dispensa as situações extravagantes, mas ainda nos deixa ver como seria se elas fossem de fato parte da história do filme. O que chega a ser frustrante é ele não assumir, em certos momentos, sua autoria, que fica evidente o filme todo, deixando-a soar às vezes como um mero instrumento estético que não funciona quando ele não toma de fato o rumo da coisa, chegando a deixar certas partes um tanto quanto forçadas. Ainda assim, o filme é gratificante por carregar em si a desilusão e aflição de um artista, possibilitando uma história de amor inusitada e bastante engraçada com um casal fora dos moldes americanos clássicos.