A Favorita (2018)

Avaliação: 3 de 5.

A relação de Yorgos Lanthimos com o cinema, ainda mais no final da década de 2010, considerando o quão pronunciado foi o declínio de alguns letreiros de Hollywood, é o mesmo que a salvação através de uma suposta novidade. Ou seja, se “Pobres Criaturas”, lançado no ano passado, rapidamente estabeleceu um holofote engrandecedor sobre a genialidade do diretor, “A Favorita”, de 2018, impugnou o que de mais interessante ele propunha com sua visão espectral representada por suas raízes gregas; a relação entre personagens, o estudo das caracterizações e uma certa predisposição para investigar o tempo. Mas, fora isso, não há nada que o diretor possa transmitir sem parecer muito grosseiro.

Por entre as paredes de um luxuoso palácio, entramos na relação entre a Rainha Anne (Olivia Colman) e Sarah Churchill (Rachel Weisz), cujo entorno é marcado por uma combinação de política e poder, dois aspectos semelhantes mas que, no contexto da obra, são explorados com diferenças vide a presença de Emma Stone como Abigail Hill, a primeira colaboração entre a atriz e Yorgos (sabemos muito bem até onde essa união chegou). Na verdade, não há nada que represente mais “A Favorita” do que o trabalho realizado pelo trio de atrizes, é fato que todas brilham incandestamente em seus papeis, justificando plenamente a vitória de Olivia Colman como Melhor Atriz no Oscar© 2019.

Mas a impressão que dá, tirando todo o trabalho de design de produção e mesmo as tentativas assertivas do diretor em combinar técnicas das quais também exploraria exaustivamente mais tarde (Pobres Criaturas), é que “A Favorita” se contém demais na sua própria ambientação. Diferente de longas situados numa realidade de realeza, como “Maria Antonieta” de Sofia Coppola, aqui, a trama se prende em seus próprios maneirismos para funcionar com o ar de novidade, marcado pela rivalidade e algumas menções sexuais femininas que seriam bem mais interessantes caso evoluíssem da trivialidade. Todo o arranjo técnico e temático, tem única e exclusiva função figurar o passo a passo de Yorgos em sua transição hollywoodiana e semi-indie, aquele famoso caso de nova descoberta. Mas o que resta, nem cabe em suas mãos: o crédito é justamente da proporção que os personagens tomam conforme a comédia, o drama e a relação de poder evoluem como sendo a matriz do roteiro. 


VEJA TAMBÉM