Rivais

Avaliação: 4 de 5.

Certa noite, a tenista Tashi (Zendaya) decide propor a seguinte jogada a dois garotos que também são tenistas, Art (Mike Faist) e Patrick (Josh O’Connor), que queriam desesperadamente ficar com ela: quem ganhasse a partida de tênis que jogariam no dia seguinte seria seu namorado. É interessante porque essa ideia surgiu depois de vê-los em um estado de deglutição, um engolindo o outro após um beijo a três. Ao se afastar deles, ela pôde sentir que estavam confusos sobre o que realmente queriam dela e de si mesmos. Porém, o desafio proposto por Tashi não seria apenas por uma bela e talentosa recompensa (a própria), mas sim, uma movimentação para entrar na vida deles.

E o filme, criado a partir de uma suposta menção LGBTQIA+ para a qual Luca Guadagnino havia fomentado uma espécie de nicho no final da década de 2010 com Me Chame Pelo Seu Nome, permanece num terreno seguro por um lado e curioso no outro. Essa máxima de ser ou não ser sobre dois meninos se beijando também é parte essencial do objetivo traçado entre os personagens e o texto. A ambiguidade disso, sobretudo, é o que sustenta a tensão romântica que vai além do triângulo amoroso, com idas e vindas entre o casal triplo; é também uma parte essencial da desenvoltura sexual dos detalhes.

Luca Guadagnino sabe que, se quisesse dirigir um filme sobre rivalidade, esporte e romance, precisaria ir além dos significados binários da heterossexualidade no cinema. Seu pano de fundo envolve uma dezena de práticas fetichistas, que vão do suor aos machucados, dos pés aos famigerados vestiários cheios de homens nus tomando banho, em uma combinação atraente de recomposição de corpos e o que eles podem oferecer como partes do enredo. Afinal, para jogar tênis é preciso ter um bom físico, e o método do longa é o tênis, pois é na quadra que ocorrem momentos de pura obscenidade e prazer — acompanhados de uma trilha sonora que brinca com a edição em um ritmo surpreendente. No princípio de ação, Rivais é um espetáculo à parte, e as cenas de duelo fazem o tênis, como esporte, parecer mais interessante do que nunca.

O romance parece natural aos encontros e desentendimentos dos protagonistas, que correm e caminham em ritmos diferentes dada a montagem que quebra a noção de tempo como prefixo narrativo em peças simétricas. É, às vezes, um pouco irritante, mas é tão bem utilizado que realmente impõe detalhes na construção de cada ato observado. O sadismo, o egoísmo e a angústia de Tashi ficaram evidentes desde a primeira cena, assim como o desespero de Art e Patrick, mas não podíamos nem imaginar que a turbulência do passado, presente e futuro fosse tão definida quanto a própria ideia da paixão entre eles.

Na verdade, a paixão, como Tashi afirma claramente, é pelo tênis. Agora, resta saber de quem é essa paixão, pois ela não vê alternativa de como lidar com as suas frustrações após se machucar e ser impedida de voltar a competir. Não é como se ela tivesse parasitado um dos meninos para fazer deles um espelho de si, muito pelo contrário, porque o desprezo que ela sente quando está com Art é estarrecedor, e quando finalmente tem seus momentos com Patrick, o comportamento é ainda pior, como se fosse persuadida a viver de acordo com cenários que cria em sua cabeça; um envolvendo a vitória de Art, e outro envolvendo o triunfo, após a decadência, de Patrick. Fora isso, não há nada que ela normalmente corresponda como qualquer outro ser humano. É meio bobo, mas o diretor sabe usar essa desumanização como parte do processo. E ao final, vemos um suspiro de boa intenção — que não dura nem cinco minutos.

O filme erra nisso. Nessa fixação em comprovar o apelo de cada personagem dentro do seu contexto, seja ele positivo ou negativo. Mas acerta, e muito, porque se há algo a ser valorizado aqui é como esse didatismo na compreensão do mínimo é deixado de lado. Guadagnino é um mestre em expor a complexidade e nos deixar torná-la discutível. É também por isso que o apelo homoerótico, que muitos esperavam, nada mais é do que um controle sobre essa complexidade humana, que às vezes pode ser resumida em detalhes, como a cama de quarto de hotel de Art e Patrick juntas, os olhares tendenciosos que invadem a consciência um do outro e, por fim, o abraço que desperta sensações distintas na última cena.


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